quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Ok, siga as modinhas... mas não descuide da composição!


Por Waldyr Neto - 

De tempos em tempos surge uma novidade na fotografia que rapidamente vira uma febre. Lembro de uns anos atrás quando todo mundo queria tirar uma foto da lua cheia. O cara comprava uma câmera superzoom e ficava todo orgulhoso quando postava no Facebook aquela linda foto da lua cheia...


...igual a todas as outras fotos de lua cheia...

Outro modismo curioso foi o HDR. Todo mundo queria fazer, e o resultado na maioria das vezes era algo mais próximo do bizarro do que qualquer coisa que lembrasse uma boa foto. De lá pra cá posso citar o advento dos drones, fotos de rastros de estrelas, etc. A modinha do momento é fotografar a via láctea.

A questão é que tem uma armadilha aí...


No início da moda todas as fotos causam impacto. É a novidade, a foto que poucos sabem fazer. É postar nas redes sociais e as curtidas e elogios são garantidos. Mas depois de um tempo o modismo passa, e um monte de gente já sabe fazer aquele tipo de foto. E o que era festa vira ressaca.

Mesmo na modinha mais atual, as das fotos de via láctea, eu já percebo os primeiros sinais de ressaca. Eu já começo a ver em fóruns de fotografia a frase: "- Legal, ficou bem feita... mas... eu não curti muito a composição".

A ressaca é na verdade um amadurecimento. Sem o encanto da novidade o julgamento volta a ser correto. Foto boa é foto boa. E tem as outras que não dizem muita coisa (como essa minha foto da lua cheia postada logo acima).

Mas como não cair nessa armadilha? Basicamente envolve colocar a composição antes da técnica.

As técnicas precisam ser aprendidas, dominadas. E pra isso é bem provável que a gente tenha que estudar, sair para campo e praticar. Mas treino é treino e jogo é jogo. Tem que ter maturidade para não cair na armadilha do aplauso fácil e seguir firme na determinação de fazer fotos memoráveis, que continuarão memoráveis mesmo quando a moda passar.

Eu tenho para mim que a lua, as estrelas, as nuvens, a luz, etc., são parte da natureza, parte do que é visto pelo meu olhar. E aí eu uso a técnica que eu preciso pra capturar a beleza disso, tendo sempre a composição como ponto de partida.












Cada uma das fotos acima foi pensada como composição, e para realizá-las eu saquei os recursos e técnicas que eu precisava para transformar minha visão em foto. O conhecimento técnico é fundamental, tanto na captura quanto no tratamento, mas o ponto de partida é a nossa visão.



Parece complicado? Talvez seja sim. Tem aí uma complicada combinação de "humanas" e "exatas". A gente tem que ficar virando a chavinha do lado emocional para o lado lógico do cérebro e vice-versa. Isso o tempo todo ao longo do processo.



É um longo aprendizado...

Mas bacana! Você chegou aqui porque é determinado e estudioso. Acho que você merece beber um pouco de água da fonte... Deixo abaixo duas frases do mestre Ansel Adams para reflexão:


"There is nothing worse than a sharp image of a fuzzy concept"
(não há nada pior do que uma imagem nítida de um conceito embaçado)

"There are no rules for good photographs, there are only good photographs"
(não existem regras para boas fotografias, existem apenas boas fotografias)


Se você gostou desse artigo e que ir mais a fundo, conheça a Oficina de Fotografia com Waldyr Neto




quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Tratando uma foto do interior de um refúgio de montanha

Por Waldyr Neto - 


Nesse novo artigo sobre tratamento de imagens com o Adobe Lightroom eu mostro como tratar uma foto de interior, no caso o interior de um abrigo de montanha que nós usamos como base nos nossos workshops e expedições em Três Picos, o Refúgio Canto da Pedra.




A Captura Digital em RAW

Tudo começa com uma boa captura, de preferência no formato RAW. O vital aqui é se preservar as informações nas altas luzes; e a riqueza de informações do arquivo RAW vai te permitir recuperar os detalhes das sombras. No formato JPEG esse ajuste fica bastante comprometido.

Em cenas com grandes contrastes é comum a captura parecer bem sub-exposta. Mas não se engane -  o importante aqui é não ter estouro nas altas luzes.

(clique na foto para ampliar)

Repare que podemos distinguir a vegetação por entre as janelas. Temos um pequeno estouro nas lâmpadas, mas isso não tem importância. Lâmpadas são estouradas por definição. Lá no canto superior direito tem o histograma tocando levemente a extremidade direita. Esse é o ponto ideal para captura de uma foto digital em RAW. Essa é a captura perfeita, esperando por um bom tratamento.

Vamos em frente...

Tone Mapping

O passo seguinte é a etapa crucial do tratamento de uma foto em RAW, o Tone Mapping, que pode ser feito no painel Básico ou no painel Curva de Tons. Eu prefiro fazer no painel Básico, só usando as curvas quando preciso de ajustes muito específicos. 

(clique na foto para ampliar)

O Tone Mapping segue uma lógica que permite ajustar a luminosidade da foto preservando detalhes em todas as faixas de tonalidade - desde o preto, passando por uma ampla gama de semi-tons até chegar no branco. Ao final do Tone Mapping a imagem está próxima àquela percebida pelo olho humano. Para ver os ajustes aplicados basta clicar e ampliar a foto acima.

Claridade e Cor

O passo seguinte, ainda no Painel Básico, é ajustar a claridade e a cor. O comando claridade existe para devolver vida à foto, em parte retirada pelos filtros que existem na frente do sensor. Usado com moderação costuma dar ótimos resultados. Nessa foto eu apliquei um pouco de claridade e não alterei nada nas cores. A foto ganha vida e salta na tela.

(clique na foto para ampliar)

Nitidez e Redução de Ruído

Nesta etapa a gente amplia a foto em 1:1, ou seja, encaixa os pixels da foto nos pixels do monitor. Com essa visão mais precisa nós fazemos o ajuste fino de nitidez e ruído. Ao final a foto está praticamente pronta.

(clique na foto para ampliar)

Nessa hora podemos dizer que a foto está pronta, é uma foto correta... e muita gente para por aqui. Mas o que vai ser realmente o diferencial é aplicar um olhar mais artístico, mais autoral. É hora de se perguntar:
  • É realmente uma boa foto? 
  • Tem algum elemento de distração que enfraquece a composição?
  • Como o olhar percorre a foto? Posso fazer alguma coisa para "conduzir" esse olhar pela foto?
  • Tem áreas que podem ser clareadas ou escurecidas de forma a tornar a composição mais interessante? (clarear ou escurecer partes de uma foto digital equivalem aos processos de dodge e burning, amplamente utilizados na fotografia analógica).
  • Tem distorções que precisam ou podem ser corrigidas?
Ajustes Localizados

Nessa foto eu identifiquei um elemento de distração, um "meio tapete" aparecendo no canto inferior direito. É um detalhe aparentemente sem importância, mas me incomoda. Ao olhar a foto por um tempo meu olhar acaba estacionando ali. Isso é totalmente subjetivo, e outra pessoa olhando a foto pode ter uma percepção totalmente diferente. Mas eu preferi seguir meu instinto e "retirar" a pontinha de tapete. Para isso usei a ferramenta de remoção de mancha, clonando um pouco de chão verde sobre o tapete. 

(clique na foto para ampliar)

Clicando na foto acima dá para ver a área de chão que cobriu o tapete. Manobras como essa podem ser extremamente controversas. E aí não existe uma regra - são decisões realmente individuais. O que eu uso para mim é uma máxima que vem do montanhismo:

"Almeje o topo mas relate com honestidade"

Se alguém perguntar se eu fiz alguma alteração mais pesada no tratamento de uma foto eu vou dizer a verdade, se fiz ou não fiz. E por isso eu evito fazer coisas que eu me envergonharia de contar.

Mas isso tudo é absolutamente subjetivo e individual... 

Correção de Perspectiva

Como a foto foi feita com uma lente bem angular, tem uma baita distorção nas extremidades. A coluna e a porta estão inclinadas para fora. Talvez você goste da foto assim, ou talvez não. Na fotografia de arquitetura é usual corrigir as perspectivas, mas na fotografia autoral é uma escolha. Eu optei por corrigir, até para ver como fica.

(clique na foto para ampliar)

No final eu ainda apliquei um pouquinho de vinheta para direcionar o olhar para dentro da foto. Abaixo o resultado final.

(clique na foto para ampliar)

Algumas pessoas curtem muito fazer aqueles comparativos antes x depois, o que para mim não faz muito sentido. O verdadeiro "antes" é a cena que eu via com os meus olhos. A imagem capturada é apenas uma etapa intermediária do processo. O desafio é fazer a nossa visão virar uma foto, e para isso é vital o domínio das etapas envolvidas.


Se você chegou até aqui, parabéns! Fotografia se aprende com esforço e estudo. Quem gosta de atalhos e facilidades não vai muito longe. Pra você que é persistente eu deixo mais algumas dicas:

  • A captura e o tratamento são um processo integrado. O que você faz na captura já define boa parte do que você vai fazer no tratamento. Ou mais ainda... a sua visão define a captura e o tratamento. Entendeu né? É pra dominar o processo inteiro. 
  • O tratamento é uma etapa fundamental. Não deixe de aprender a tratar fotos por preconceitos ou por "ver um monte de foto bizarra no Facebook". Se preocupe com as suas fotos. Aprenda a fazer um bom tratamento. Tenha como referencia as boas fotos, não as ruins.
  • Já usei alguns pre-sets e não gostei. E já tentei criar os meus próprios pre-sets e também não gostei. A parte fundamental do tratamento é o tone mapping, que é um ajuste muito específico de cada foto. Se quiser fazer fotos em alto nível, trate uma a uma.
  • Contraste, claridade e saturação são os "botões da perdição". Na dose certa valorizam a foto. Na dose errada deixam a foto super artificial. Seja cauteloso, principalmente no início do seu aprendizado.
  • Tenha um computador ou notebook decente. Não adianta ter câmera, lente e tripé bacanas e ter um computador caindo aos pedaços. O equipamento tem que ser coerente por todo o processo.
  • Só como referência, eu levo de 1 a 2 minutos para tratar uma foto como a desse artigo. É raro levar mais do que isso. E eu faço uma boa seleção das fotos que eu vou tratar. Fotografar em RAW e tratar as fotos não é esse bicho de sete cabeças que dizem por aí.

Se você gostou do artigo e que ir mais a fundo, venha fazer a Oficina de Lightroom com Waldyr Neto Clique no link e veja os depoimentos de quem já fez.