segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Como fazer uma foto de paisagem com Lua cheia

Por Waldyr Neto - 

 
Lua cheia se pondo sobre os Portais de Hércules, Serra dos Órgãos
(clique na foto para ampliar)

A lua de sangue com eclipse está chegando. É hora de estudar os horários e locações para tentar um bom registro desse evento. Tudo ainda depende de São Pedro... mas de nossa parte o importante é estar preparado.

Nota do autor em 24/07/2018: Este artigo foi originalmente escrito para a Lua cheia de novembro de 2016 e agora eu fiz uma pequena revisão e atualizei os dados para a Lua cheia do dia 27 de julho.

De volta ao texto...

Nesse artigo eu explico como fazer esse tipo de foto. Não necessariamente fotos isoladas da Lua, que são comuns e bem fáceis de fazer. A questão aqui é inserir uma bela lua cheia numa foto de paisagem.

Em tempo, o aplicativo do blog compromete bastante a qualidade das fotos. Você pode clicar para ampliar (melhora um pouco) ou visitar meu álbum de fotos no Flickr.

Se animou? Continue lendo...

A primeira questão importante é entender que uma foto da Lua é tipicamente uma foto diurna. Apesar de ser noite na Terra, você está fotografando o dia da Lua, certo? Uma Lua cheia é extremamente luminosa e é até possível fazer fotos na mão, sem tripé. Na prática é bom usar o tripé para garantir uma foto bem nítida. Tome cuidado para fazer uma boa exposição e não perder os detalhes.



Já inserir a Lua numa foto de paisagem é um pouco mais complicado. Vamos por partes...

A primeira questão é entender o que é a Lua cheia. Basicamente é uma questão de ponto de vista. A Lua está cheia quando você está de frente para ela e de costas para o Sol, ou seja, quando a Lua está sendo iluminada frontalmente, a partir do seu ponto de vista. Colocando de outra forma, é quando Sol e Lua estão em lados exatamente opostos no céu. 

Entender isso é fundamental para as nossas fotos, pois exatamente na Lua cheia os horários de nascer do Sol e pôr da Lua, e também pôr do Sol e nascer da Lua, quase coincidem. 

Vejamos os horários da Lua Cheia desta sexta feira, dia 27 de julho de 2018 (tendo como referência Petrópolis - RJ e utilizando o aplicativo The Photographer's Ephemeris)

Manhã:
Pôr da Lua: 6:11 a 248,7º
Nascer do Sol: 6:28 a 69,5º

Tarde:
Nascer da Lua: 17:27 a 110,5º   (com lua de sangue e eclipse lunar)
Pôr do Sol: 17:29 a 290,4

Reparou as coincidências? 

A segunda questão a considerar é o alcance dinâmico (dynamic range), que é o tamanho do contraste de uma cena. Entenda-se por contraste a diferença de luminosidade das partes mais claras e mais escuras. Nossos olhos, por conta do processo de dilatação e contração da pupila, têm uma tremenda capacidade de enxergar detalhes numa cena com muito contraste. Quando vemos uma Lua cheia alta no céu conseguimos também distinguir nuvens, estrelas, a silhueta das montanhas, etc. Já os sensores das nossas câmeras lidam com um contraste bem menor, por volta da metade do que lida o olho humano. 

Conclusão: Com a Lua cheia alta no céu, se a gente acertar a fotometria da Lua, o resto da cena fica preto; e se a gente acertar a fotometria do resto, a Lua fica estourada. 

Como resolver?

É simples - basta aproveitar aquele momento mágico do nascer e pôr da Lua cheia. Lembra que isso acontece em horários muito próximos do pôr e nascer do Sol respectivamente? É aí que está o segredo. Com a luz do sol na cena o fundo se ilumina, e num curto espaço de tempo temos a luminosidade de Lua e da paisagem equilibradas.

Pôr da Lua ao lado do Pico do Congonhas
(clique na foto para ampliar)

Como fazer (passo a passo):

  1. Estude os horários e defina onde fazer a foto. O aplicativo The Photographers Ephemeris ajuda muito.
  2. Chegue cedo, escolha o enquadramento e monte a câmera no tripé. 
  3. Se for de manhã, vai estar bem escuro e a Lua vai estar um pouco acima da linha do horizonte. Se a foto não tem primeiro plano o foco pode ser na Lua. Se tiver primeiro plano é importante utilizar o conceito do hiperfoco. Faça algumas fotos e se certifique de que a fotometria da Lua está correta, ou seja, bem clara mas sem estouros. A chave aqui é não perder os detalhes da Lua.
  4. Algumas pessoas gostam muito de saber os dados da foto. Com o tempo isso deixa de ser importante, mas acho que é legal dar um exemplo aqui como um ponto de partida: Use a câmera no modo "M" com ISO 100 e abertura f/8. O tempo para fotometrar a Lua cheia pode ficar em torno de 1/40s, talvez um pouco mais ou um pouco menos. O importante é manter fixos o ISO e a abertura e ir variando o tempo para encontrar a fotometria correta.
  5. O dia vai clareando e você segue fazendo fotos com a Lua bem exposta, sem estouro. Como o passar do tempo o fundo começa aparecer. Mais uns minutinhos e a luz fica bem equilibrada. Continue SEMPRE fazendo a fotometria pela lua. A paisagem se revela sozinha. 
  6. Depois de mais um tempinho a claridade do dia fica muito intensa e a Lua perde o encanto, ou seja, fica bem apagadinha. A janela de tempo que a gente tem para fazer essas fotos é pequena. Se bobear perde.
  7. Se for de tarde o processo é bem parecido. A paisagem vai do claro para o escuro, mas o processo é o mesmo, ou seja, acerta a fotometria da Lua e espera a luz equilibrar. 
De manhã, Lua cheia ainda alta e pouca luz na paisagem

Dia começa a clarear e a luz começa a equilibrar. Quase lá...

Luiz mais equilibrada e Lua já perto da linha do horizonte. Esse é o instante mágico da foto

Repare nas três fotos acima que a luminosidade da Lua é sempre a mesma, e o que muda é a luz da paisagem. 

É isso aí pessoal! Torço para que São Pedro nos ajude e que todos consigam suas fotos da lua de sangue com eclipse. O método explicado acima funciona e eu mesmo já fiz várias fotos com ele.

Boa sorte à todos! 

Nascer da Lua cheia visto do Alto da Ventania, Petrópolis
(clique na foto para ampliar)


Gostou do artigo? Quer ir mais à fundo nessas técnicas? Conheça a Oficina de Fotografia com Waldyr Neto.




quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Panorâmica de HDRs - Como fotografei o interior da Catedral de Petrópolis

Por Waldyr Neto - 


Nesse novo artigo eu falo um pouco sobre as técnicas HDR e panorâmica, e mostro como usá-las em conjunto, artifício que foi necessário para registrar o interior da Catedral São Pedro de Alcântara, em Petrópolis.

HDR que dizer high dynamic range, ou seja alto (ou grande) alcance dinâmico. O dynamic range, ou alcance dinâmico, seria a medida da diferença de luminosidade das partes mais clara e mais escura da foto. Sem entrar em maiores questões técnicas, o problema aqui é que os sensores das nossas câmeras, mesmo as mais caras, conseguem lidar com diferenças muito menores de luminosidade do que o olho humano consegue. O resultado é que nessas cenas muito contrastadas nós não conseguimos registrar o que vemos.

A técnica HDR surgiu faz alguns anos para resolver esse problema. Basicamente você faz um conjunto de fotos com medições de luz diferentes e depois mixa essas fotos num software de edição. Infelizmente a técnica acabou sendo usada para se fazer fotos extremamente artificiais, e com isso o termo HDR acabou virando sinônimo de foto bizarra. Mas se a gente resgatar o sentido original do HDR é possível fazer boas fotos em condições de luz bem difíceis.

Vamos reforçar o entendimento com um exemplo.

Em Petrópolis existe uma bela capela que faz parte do conjunto arquitetônico do Mosteiro da Virgem. É um lugar lindo e relativamente pouco conhecido. A dificuldade de fotografar a capela é a forte luminosidade das janelas ao fundo, por trás do altar. Nossos olhos conseguem ver detalhes em tudo, mas os sensores da nossa câmera não conseguem.

Vamos à execução do HDR então.

Para fazer as fotos eu montei a câmera num tripé e fiz uma leitura de luz inicial. O ponto de partida é uma foto onde se preserve os detalhes na altas luzes, mesmo que as sombras fiquem totalmente fechadas.

Foto 1 do HDR - detalhes preservados nas janelas

Depois subi 2 pontos na exposição e fiz a segunda foto.

Foto 2 do HDR

E Subi mais 2 pontos para fazer a terceira.

Foto 3 do HDR

Nas três fotos eu usei o mesmo ISO e a mesma abertura, e fui mudando a exposição variando o tempo. Na prática eu faço isso de maneira automática, usando a função "auto-bracketing" da câmera. Se aprender a usar desta forma facilita. Mas dá para fazer manualmente também.

Pra quem curte ver os dados das fotos eu usei uma Canon 5D mark II com a lente Canon 17-40mm f/4 L. Nas três fotos mantive ISO 160, f/11 e 17mm. E os tempos foram respectivamente 0,10", 0,40" e 1,6". As fotos foram capturadas no formato RAW.

Usando o aplicativo de edição Adobe Lightroom (tem que ser da versão CC para frente) selecionei as três fotos, cliquei com o botão direito em "mesclar foto" e "HDR". O Lightroom processa o HDR e te entrega um novo arquivo em RAW.

HDR mixado pelo Adobe Lightroom CC

É a partir do HDR em RAW que o tratamento da foto começa. Não vou detalhar tudo aqui, pois já mostrei esses passos em outros artigos, mas vou mostrar os ajustes mais importantes.

Depois de fazer os ajustes globais - tone mapping, claridade, nitidez, redução de ruido - eu fiz um acerto de perspectiva, basicamente para corrigir a inclinação das colunas.

Perspectiva ajustada

Analisando o resultado decidi fazer ajustes de luminosidade. Essa é uma etapa bem pessoal, onde o fotógrafo analisa o fluxo do olhar pela foto e interfere nesse fluxo. A primeira decisão minha foi acrescentar um pouco de vinheta, para direcionar o olhar para dentro da foto.

Foto sem a vinheta

Foto com a vinheta aplicada

Depois destaquei a imagem do centro do altar com um filtro radial. Basicamente acrescentei luz e definição nessa parte.


E também apliquei mais claridade na parte central da foto.


E aqui está o resultado final.

Mosteiro da Virgem - clique na foto para ampliar

Repare que o resultado do uso da técnica HDR é uma foto onde as informações das sombras e das altas luzes estão preservadas.

Usando esta mesma técnica mas sem ser repetitivo detalhando todo o processo, eu fotografei o lado oposto, a entrada da capela. Veja o resultado.

Foto 1 do HDR

Foto 2 do HDR

Foto 3 do HDR

E o resultado final, já com o tratamento



Nesse mesmo dia fui para a Catedral São Pedro de Alcântara, a Catedral de Petrópolis. Essa bela igreja construída em estilo neo-gótico apresentava um novo desafio. As dimensões maiores e o teto muito alto não permitiam um único enquadramento. Teria que fazer fotos na vertical para depois montá-las lado a lado. Mas essas fotos teriam que ser HDRs, pois a diferença de luz dos vitrais para o interior da igreja era imensa. Montei a câmera no tripé, fiz um enquadramento para a esquerda, um central e um para a direita. Para cada enquadramento fiz três fotos com leituras de luz diferentes. No Lightroom montei um HDR para cada enquadramento e depois montei a panorâmica com os HDRs.

Complicou?

É fácil entender vendo o esquema abaixo...



Montar a panorâmica no Lightroom é bem simples - o processo é similar ao HDR. É só selecionar as fotos e clicar com o botão direito. Depois clica em "mesclar foto" e "panorama". Assim como o HDR, a panorâmica montada é um novo RAW, que passa a ser o ponto de partida do tratamento.


Seguindo aqueles passos todos - tone mapping, claridade, nitidez, ajuste de perspectiva e ajustes localizados de luminosidade, etc., chegamos no resultado final. A nossa bela Catedral neo-gótica registrada por dentro.


Se você chegou até aqui, parabéns! Como já disse em outros artigos, aprender fotografia envolve prática e estudo. O processo parece complicado? Talvez ele todo seja sim, mas você pode começar aprendendo e dominando as duas técnicas isoladamente.

Se você gostou do artigo e quer ir mais à fundo nessas técnicas, conheça o Paraty Fotowalk com Waldyr Neto, onde nós vamos caminhar e fotografar juntos pelas ruas do Centro Histórico de Paraty.

Catedral São Pedro de Alcântara - vista externa